Lembranças

 Lembro da primeira vez que eu te conheci.

 Tímido, recatado, sempre calado, disfarçado de solidão. 

Lembro também da primeira vez que você sorriu, com a sua boca se transformando em coração, e então você viu que conseguiu me fazer sorrir também.

 Lembro dos seus olhos pequenos, tão serenos, que o verde das tuas orbes era sinônimo de calmaria.

 Lembro também da sua voz rouca e baixa, igual a um sussurro, como se tivéssemos um segredo a esconder.

 Lembro de cada um dos teus traços, os mesmos traços que você nunca gostou. 

Lembro também que quando te vi minha garganta travou e a única coisa que martelava na minha cabeça era de que cada traço seu, mesmo redesenhado, nunca deixaria de ser seu e nunca deixaria de ser marcante, porque tudo em você é impossível de esquecer.

Lembro de queimar sob o teu olhar no dia em que você me levou para jantar e terminamos a noite sentados lado a lado no cordão da calçada, conversando sobre o mundo e tudo aquilo que ainda desconhecíamos sobre ele.

Lembro de cada uma de suas palavras de amor, deslizando sob minha pele, invadindo cada centímetro do meu ser. 

Lembro dos nossos passeios noturnos, dos nossos desejos compartilhados, nossos sorrisos contados e de nós dois emaranhados num fio invisível que ligava nossas almas.

Akai ito.

Lembro de cada momento, cada sentimento, cada centímetro de você.

Também lembro do momento mais crucial, quando eu acordei pela manhã e você tinha sumido.

Você levou até seu jornal, não deixou nem teu cheiro pairando no ar, para me fazer lembrar que foi real.

Akai ito não foi o suficiente para te segurar aqui porque enquanto eu me prendia mais ainda no emaranhado de fios você estava pacientemente cortando-os com uma tesoura até se libertar.

Agora eu tenho que viver, aprender a reconhecer como era meu mundo antes de você.

Maldito fio vermelho que arrebentou da sua mão. 

Agora eu encaro o mundo de frente, mesmo sem conhecê-lo. Não possuo esperança nenhuma de você voltar, de te amar de novo e acabar mais uma vez no teu abraço.

Agora tenho esperança de que eu tenha força o suficiente para encarar o mundo sozinha.

O meu fio vermelho me conecta com mim mesma.