O amor tem a cor dos seus olhos
Quando eu era mais novo, por volta dos meus nove anos, eu conheci o meu primeiro amor. Por mais inocente e ingênuo que eu fosse naquela época, o que eu sentia era tão vasto quanto os oceanos e tão mágico quanto um conto de fadas. Nem o amor da Sininho pelo Peter Pan chegava aos pés do meu amor por ele.
Tentei lançar feitiços, com minha varinha mágica, rezando para que eu continuasse criança e que meus sentimentos continuassem apenas com gosto do verão.
Por um tempo funcionou.
Talvez minha varinha mágica não fosse apenas um graveto que encontrei no caminho de volta para a escola e que me fazia sentir como o Harry Potter, nas noites em que eu e meu irmão maratonávamos nossa saga preferida e tomávamos refrigerante escondidos dentro do armário da cozinha. Talvez fosse real e tivesse realizado meu desejo de criança (o único até hoje).
Com esse feitiço, consegui jogar meu amor do outro lado do mundo, mas esse amor dobrou o mundo em dois e atravessou oceanos inteiros nadando, apenas para se aproximar de mim.
No final, todo o feitiço foi quebrado por um par de olhos verdes que me lembravam azeitonas fresquinhas nos potes de vidro do supermercado.
Por que eu não consigo raciocinar perto de você? Por que eu não consigo te afastar?
“Vá embora”, “Não me deixe”, “Por favor, não se aproxime”, “Por favor, não se afaste de mim”.
Um misto de pensamentos, entre a hesitação e a animação, entre pegar sua mão ou olhar para o chão.
Eu não consigo me controlar perto de você.
Talvez seja esse seu sorriso de garoto, com as covinhas formando dois buraquinhos perfeitos em suas bochechas. Talvez seja a sua boca, seus dentes retinhos ou seu nariz gordinho que mais me lembra o nariz de um coelho do que de gente, com seus olhos vermelhinhos que apenas comprovam que você é um coelho por completo. Talvez sejam os seus abraços fantasiados de conforto, suas palavras fantasiadas de calmaria e a sua voz fantasiada de chá para dormir. Ou talvez esses “talvezes” sejam as únicas certezas que eu tenho na vida, porque esses são todos - entre outros milhares - os motivos que me fazem ser completamente e totalmente louco por você. E como toda história de amor precisa de um início, esse é o meu: o dia em que meu feitiço acabou e eu dobrei o mundo ao meio, em dois, só para correr diretamente até ele.
E como sem ele não existiria história, dedico aqui, ao meu primeiro amor, o mais belo e sincero: obrigado. Eu só fui ter consciência da força dos meus pulmões quando atravessei a muralha da China, o Coliseu, Machu Picchu e o Cristo Redentor só para ir até você.
Nosso amor ainda continua com gosto de verão, mas agora tem um doce seu. Talvez seja porque ainda sou criança, ingênuo e inocente, que apenas espero o momento/dia/hora/mês para poder te chamar de meu ou pelo menos pra te dizer que cresceu e que você continua sendo a minha versão mais bela de um conto de fadas.
Adicionando mais um talvez questionável na minha lista de "talvezes", talvez meu feitiço nunca tenha funcionado e eu jamais fui Harry Potter.
Talvez eu apenas acumulei meus sentimentos, armazenando eles bem no meu coração e esperei o dia em que eles viriam à tona. Tudo para mim é um mistério, desconheço até o dia em que tudo isso teve início. Reconheço apenas você, meu coelho, que me ensinou que o amor tem a cor dos olhos da pessoa que mais amamos.
Agora o amor tem cor verde e as minhas paredes estão cobertas de você.
Direitos autorais: You are my spring, 2021.
meu deus que coisa fofa, adorei
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