Ontem a noite a Lua me disse
Ontem a noite a Lua me disse que derramou lágrimas salgadas, que pingaram no chão da terra e viraram oceano.
Inundando, transbordando, nesse pequeno mundo vazio.
E as estrelas gritaram em meio ao dilúvio, mas eu ainda não sei se foi de dor ou terror.
Ainda não tive a chance de perguntar, porque fazem três noites que o mundo
ficou
preto.
E eu já nem consigo ver a ponta dos meus dedos.
Será que a escuridão tomou conta do mundo ou
tomou conta dos meus olhos?
Meus olhos chorões que choram lágrimas manchadas de vermelho
Que escorrem por meu corpo junto da água do chuveiroE me lembram que preciso acordar no dia seguinte.
Pela manhã o Sol me disse que tentou acalmar as lágrimas da Lua.
Mas será que realmente tentou?
Era escuro demais e eu não pude identificar os sussurros
Talvez fosse a Lua que cuspia palavras bonitas
na tentativa de amenizar a própria dor.
Éramos dois sofredores, coitadinhos!
Pena me causa repulsa.
Deve ser por isso que eu já nem consigo me olhar no espelho
Porque meu corpo inteiro reflete dó.
Perdi a conta de quantas vezes eu saí na rua tentando esquecer meu corpo preenchido por pena.
Mas a cada vitrine que eu olhava
Meu reflexo sorria pra mim.
Girando, girando e girando como um planeta em órbita
Girando sem parar
Minha visão ficou turva
Suas mentiras vão abafar a minha queda ou suas verdades vão me fazer quebrar um braço?
Quando estava à caminho do hospital eu soube a resposta.
Fazem três noites que eu não consigo ver nada.
Não vejo meu corpo, não vejo meu rosto e não vejo as estrelas.
Isso deveria me reconfortar?
Acho que me perdi no meio de toda essa dor que invade o meu ser e me torna
cúmplice
da Lua.
Ela não chorou sozinha.
Talvez a culpa seja minha por confiar meus devaneios de amor para quem vive há milhões de anos tentando beijar uma estrela.

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