Confissões de uma madrugada de outono.

Eu quero que os dias chorem, que o sol se esconda e que as nuvens carregadas de melancolia tomem conta do mundo.

É injusto demais saber que eu choro sozinha, por bobagens minhas que confundem minha mente e me fazem evaporar.

Sou como a água parada, um rio em movimento, um tornado em andamento ou uma simples gota de chuva. 

Faço fogo com o ar, me torno chamas que incendeiam a madeira e fazem faíscas e labaredas dançarem em céu aberto, abraçadas uma na outra, como uma dança de valsa.

Sou a destruição, mas também sou a cura. 

Eu acho que sou um pouco de tudo, que sou dividida em quebrar e consertar.

Por que eu deveria pedir ao Sol para sorrir quando eu mesma não coloco um sorriso no rosto?

Chega de mentir, de esperar alguém me salvar. 

Tudo o que eu quero é um lugar para me esquentar nas noites frias de inverno. Quero também uma grama fresca e uma brisa suave no verão e durante o restante das estações só preciso de um pouco de pertencimento e a segurança de que estou bem.

Creio que me reconheço, mas não bem o suficiente. As minhas falhas ainda não foram aceitas e me parece injusto amar apenas as partes bonitas de mim mesma, porque mesmo as partes ruins precisam de um pouco de carinho.

Também reconheço ações, aquelas na hora da raiva, quando meu corpo entende que eu mereço valor e agir é o único jeito de me importar com meus sentimentos. Sentimentos esses que são pisados por sapatos imundos que esmagam meu corpo e tentam manchar minha alma de preto.

Meu peito, que ainda abriga meu coração triste e palpitante, já não consegue mais respirar do mesmo jeito.

Ele bate devagar, as vezes rápido demais, e quando menos espero me vejo trancada em um quarto escuro sem conseguir sair e tudo me parece pequeno demais para estar ali. E eu começo a sufocar.

Sufocar até morrer nunca me foi uma opção, mas nas noites frias da madrugada, onde me parece difícil demais para respirar, penso em desistir pois é muito complicado ter que encarar outro dia.

A madrugada é a minha melhor companhia, que me mostra que a solidão ainda me conforta o suficiente para deitar lado a lado comigo e fazer carinho no meu cabelo até a hora de dormir.

A solidão é como um relacionamento que não deu certo e ainda permanece ali, intacto, corroendo os últimos resquícios de humanidade que restam nessa carcaça oca que eu chamo de mim mesma.

Em compensação, a alma brilha como uma criança que espera pacientemente um primeiro desejo ao ver uma estrela cadente cruzando a aurora.

Um, dois, três passos de uma vez. Pulando amarelinha nas calçadas cinzas da minha rua.

Quando se é criança ninguém julga as lágrimas que caem dos teus olhos ou quando você dança na chuva.

Gargalhar até a barriga doer, sorrir até a boca rasgar, sentir que o coração vai explodir.

Talvez esses sejam os únicos resquícios de felicidade que transbordam do meu corpo e me mostram que ainda há um lugar para pertencer.

Apenas um pequeno lembrete para mim mesma.

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